Forma de expressar-se

Em 1999 um fato mudou minha vida. Me fez olhá-la de uma forma diferente. Para superar o que vivia naquele momento, li no final do ano citado, o livro de Richar Bach - Fernão Capelo Gaivota. Meus pensamentos tomaram outras direções. Minha incursão na leitura tomava gosto nesse momento. Foram muitos os livros após terminar minha especialização e iniciar o mestrado. Em cada leitura, um novo pensamento; em cada novo pensamento traduções poéticas das experiências vivenciadas, sentidas, experimentadas no meu dia a dia, no meu cotidiano. Poesias e poemas passaram a ser a forma de eu dizer de mim, meu pensar, meu sentir, meu viver. Para mim, a poesia não tem tradução, nem explicação. Ela apenas diz. Comunica o incomunicável. Em muitos momentos ela fala por mim.

domingo, 24 de abril de 2011

Sabedoria ou demência?

O humano.
Sistema autônomo,
Projeto inacabado.

Eu.
Devir?
Sábio e louco?
No vasto complexo,
O humano complexo e vasto.
Imensidão...

NOGUEIRA, Valdir
Db.Nog. 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Continua vivendo...




Continua vivendo
Quem nutre uma esperança profunda
Quem se encanta com o sorriso de uma criança
Quem experimenta a magia do inacabado
Quem não se cansa de alimentar a esperança da continuidade humana

Continua vivendo
A pessoa que não desiste de si
Que percorre caminhos ainda não trilhados
Que enfrenta os seus próprios limites e se desafia continuamente
Que entende o sentido da existência

Continua vivendo
Aquele que ensina ao aprender
Que sabe escutar e não somente ouvir
Que vê o mundo como possibilidade
Que acredita na força da solidariedade alimentada na fé do reencontro

Continua vivendo
Quem se descobre fazedor de história
Quem se eterniza nos gestos e nos olhares
Quem se mostra singular
Quem se faz ponte ao invés de muro

Continua vivendo
Quem reinventa a vida a cada novo dia
Quem sente a fluidez da alegria
Quem descobre que seu projeto de vida nutre um projeto de amor
Quem percebe que a felicidade é um tempo carregado de significados

Continua vivendo
Quem vê em Deus uma fonte
Quem se percebe um fio do tecido planetário
Quem se faz vida nas vidas desvalidas
Quem torna realidade o sonho-possibilidade

Continua vivendo
Quem faz da vida uma arte
Quem vê na ciência uma estrada
Quem encontra na filosofia um tesouro
Quem faz da poesia um achado
Quem se permite, nesse tempo do viver, ser cientista, poeta, filósofo e um pouco artista.

NOGUEIRA, Valdir.
Db.Nog.


Pós-escrito

Esse texto foi escrito para presentear uma professora muito amiga. Coordenadora do grupo de pesquisa que participo e que há pouco tempo havia perdido seu esposo. As palavras que teço, conforme o pensar freireano, são palavras-força. No momento da escrita e após sua conclusão, percebi que elas também eram ditas para mim. Na seqüência, a nota de rodapé que acompanhava o presente poético. 
Querida professora,

A vejo como um artista sempre buscando novas formas para representar a vida; como um poeta a riscar no papel palavras que possam abrir caminhos possíveis; uma socióloga-educadora carregada de uma linda filosofia e, em tudo isso, uma cientista que muito tem me inspirado a continuar vivendo, pois como disse você um dia desses: “nossos pensamentos continuam nas gerações futuras”, continuamos nos outros com os quais um dia nos foi possível partilhar um pouco de nossas vidas. Nesta tarde do dia 12 de Outubro quero lhe desejar as mais belas bênçãos de Deus e Felicidades pela passagem-tempo de seu Aniversário-vida. Obrigado por se permitir continuar vivendo nos meus sonhos-possibilidades. Abraços fraternos,

Valdir. 


terça-feira, 22 de março de 2011

Tempo


Há tempo para nascer,
Tempo para plantar e tempo para colher
Tempo para viver, tempo para morrer e
Tempo para pensar o tempo.

Há tempos o universo não existia
Hoje estou em um planeta que há tempos não havia
Nascemos em um tempo
Vivemos um tempo
Morremos no tempo.

Há tempo para estudar
Tempo para trabalhar, comer, dormir, amar...
E o tempo para o tempo?
E o tempo para ser tempo?
Estou à espera de um tempo
O tempo me espera.

Há qual tempo pertenço?
Sono, fome guerra, sorrisos
São estas expressões de tempo?
Ao viver, sentimos o tempo?

O tempo do sorriso
O tempo de piscar e fechar os olhos
O tempo da contemplação
Entre o canto do pássaro
E a fala humana há um tempo, há tempos.
E a que tempos pertencem?
Em que tempos são pássaro e humano?

O tempo do barulho
E o barulho no tempo
O tempo do vento, da chuva, do choro.
E o choro do tempo, do vento, da chuva,
De mim.

Sou um tempo e há um tempo em mim
O sol, a estrela, a nuvem, o céu
De que tempos são e que tempos têm?
Há um tempo para o céu
E outro para o cometa
O céu que está no tempo
E o cometa que espera um tempo.

Há um tempo para o início
E o início do tempo
Há vida no tempo
E o tempo tem uma vida.

O tempo a esperar o tempo.
O tempo a esperar por mim
E eu a esperar um tempo.
Será que tenho tempo?


Em 2001, inicie o curso de Mestrado na Universidade Regional de Blumenau – FURB. Uma amiga e eu nos interessávamos pelas discussões de um professor sobre as ideias da complexidade. Cada momento de aula ou discussão com ele, fazia com que eu entrasse em um turbilhão de ideias. Íamos para as aulas todas as quintas e sextas-feiras. Em um dia desses, não lembro a causa, tive que ir sozinho. Após a aula, tive que ficar em uma sala esperando o momento de orientação da dissertação. Foi nessa sala, sozinho e com os meus pensos que pensei sobre o tempo.


Lembrança forte e doce.

Valdir Nogueira. 


quarta-feira, 2 de março de 2011

Rede


Escrever sobre a rede,
Dizer do que ela diz
Escrever a história da rede ou a história que conta a rede. Da rede tenho muito a dizer, mas a rede diz muito do que tenho, do que sou, do que vivi.

As redes têm muitos nós e em cada nó há muito de mim
Em cada nó têm muitos outros comigo
Cada nó da rede forma outras redes, outros nós.
Desfazer esses nós, é desfazer os nós que formam a rede que sou
Rede de significados, encontros e desencontros
Redes de sentimentos, marcas...

A rede leva um tempo para ser rede, se fazer rede
Ela se constrói, toma forma,
Toca as mãos do tecelão
A rede é tocada,
Tocada pelas idéias, pelas intenções do tecelão

O tecelão tem uma história,
Uma história presente na rede.
A história do tecelão se fez como ele faz a rede:
Uma tessitura, uma construção, encontro-desencontro
Linhas que formam nós,
Nós que formam malhas, malhas que formam a rede.

O tecelão trás consigo outras redes,
as redes de sua vida, de sua história...
História que passa no tempo da tessitura
No tempo de trocar a linha da agulha,
De levar a agulha na malha da rede que nasce

Vida de tecelão que tece a vida da rede
A rede tem um sentido, a serventia de ser rede
A rede espera a espera da tessitura do sentido de si e do tecelão
E os nós?

Os nós da rede sustentam as malhas que a formam. As malhas existem porque existem os nós, os nós tecidos por outra rede: A rede humana.

Cada nó da rede conta uma história
Conta histórias
Conta tempos
Conta a conta dos nós da rede do tecelão

Tecer uma rede é arte. Logo, tecelão e rede são artes
A rede, criatividade que expressa um ser
O ser do tecelão

Cada rede tem uma história
Cada história é uma rede
Cada rede é um tecido
O tecido de outras redes.

Tenho visto e refletido a beleza da rede
Esqueci de ver e refletir a beleza do tecelão
Do ser que dá o ser a rede.
É preciso ver o tecelão tecido com a rede
Ver as redes.


NOGUEIRA, Valdir  


Pós Escrito

A cada nova poesia ou poema que publicarei aqui neste blog, estarei escrevendo o contexto em que o texto foi criado. Assim, para que isso se concretize, o poema – Rede – foi escrito após um momento de aula com alunos da universidade em uma disciplina intitulada História de Vida. Naquele momento, afetado pelo contexto das discussões e do ambiente preparado para o encontro, me deparei com uma rede e então, as palavras começaram a ferver em minha cabeça. Palavras que me reportaram ao meu contexto de vivencia, às minhas raízes culturais. Neto de pescadores. A rede, de fato, fala muito de mim. Como as demais escritas que serão publicadas aqui, é autobiográfica. Com carinho,

Valdir Nogueira. 


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Anesthésie

Desvairado e entorpecente
Voluptuosidade
Calmaria translúcida
Afago insano
Riso nefasto

Ai de mim se te perco
Ai de ti se não me encontras

Galopante das estrelas
Corredor dos céus
Navegante das nuvens
Reluzente diamante
Extenso lampejo

Ai de mim se te deixo
Ai de ti se me negas

Textura audaciosa
Tintura que não se decifra
Natureza indomável
Espelho multifocal
Janela inexata

Ai de mim se não te ouço
Ai de ti se não me falas

Enigma das alturas
Fundamento profundo
Líquido insaciável
Correnteza onírica
Hercúleo hóspede

Ai de mim se não te sinto
Ai de ti se não me tocas

Cheiro inebriante
Sabor inigualável
Prisão sem chaves
Desejável aurora
Sublimação vital

Ai de mim se não te atraio
Ai de ti se não me alcanças

Bálsamo longínquo
Presença perene
Sopro e fogo
Vida.

NOGUEIRA, Valdir

DANÇA

Dançam vida e morte
Feiúra e beleza
Velho e novo
Criança e jovem

Dançam águas e ares
Mares e rios
Flores e florestas
Aves e céus

Dançam cores e cheiros
Espelhos e imagens
Luzes e sons
Sonhos e fantasias

Dançam idéias e textos
Gritos e choros
Imagens e magias
Suspiros e esperanças

Dançam todos
Tudo dança.

Dançam ventos e eventos
Palhaços e risos
Melodias e afagos
Desejos e encontros



Dançam singelezas e altruísmos
Caminhos e caminhantes
Fortes e nobres
Ricos e pobres

Dançam os que vivem,
Dançam os loucos,
Dançam os possíveis,
Dançam os olhos e olhares.

Dançam eles e os outros,
Você e eu,
Dançam todos e tudo.
Tudo dança,
Até o Universo.

Autor: Valdir Nogueira